LITERATURA DE CORDEl
BULE BULE
RODOLFO COELHO CAVALCANTE
ANTONIO CARLOS DE OLIVEIRA BARRETO
LAMPIÃO: PARADOXO FASCINANTE
Escreve:Antonio Carlos de Oliveira Barreto - professor, poeta e cordelista, com vários trabalhos publicados
LAMPIÃO E MARIA BONITA
Não sou dono da verdade
Não sou velho e não sou novo
Não sei quem nasceu primeiro
Se a galinha ou se o ovo
E por não saber de tudo
Francamente não me iludo:
Eu consulto logo o povo.
Pra saber se Virgulino
O famoso Lampião
Foi herói ou foi bandido
Saí com papel na mão
Consultando muita gente,
E aquí o povo não mente:
Tire a sua conclusão!
Lampião quando criança
Teve o pai assassinado
A justiça deu as costas
E o caso foi encerrado.
Daí começa o destino
Daquele pobre menino
Que não se fez de rogado.
- Admito meu fascínio
Por esse pernambucano
Que não foi nenhum herói
Por ter sido desumano.
No entanto, por ser vítima
Sua atitude foi legítima:
Perdoemos seu engano.
- Caso Lampião voltasse
Para a terra reencarnado
Eu me juntaria a ele
Porque ando injuriado
Com a corja de Brasília
Que rouba, maltrata, humilha
E o povo fica calado.
- à luz da Psicanálise
Eu perdôo o Lampião.
Se eu fosse o analista
Não seria o "capitão"
O malvado, o assassino...
Garanto que Virgulino
Mudava de profssão.
- Seu refúgio na Bahia
Lhe rendeu longevidade
Se ficasse em Pernambuco
Ou outra localidade
Certamente Lampião
Tombava ali no chão
Sem Chegar à flor da idade.
- Quero que os pesquisadores
Nos mostre sem embaraço
Os exemplos de grandeza
Do nosso Rei do Cangaço
Se alguém me convencer
Lampião vou defender
Com régua, guerra e compasso.
- Não sou dado a extremismo
E tampouco à nostalgia:
Curto muito essa história
No cordel, na cantoria
No teatro, no cinema
Sem fanatismo e dilema
E também na poesia.
- Dizem que o amor é cego
É verdade, compamheiro!
Veja que Maria Bonita
Deu adeus ao sapateiro
Homem simples, bom marido
E fugiu com o destemido
Lampião - o cangaceiro.
- Virgulino ao encontrar
O amor da sua vida
Poderia ter mudado
A trajetória escolhida.
Mas sua musa leal
Maria Bonita, afinal
Deu-lhe apoio e guarida...
- Mesmo sendo renegado
Pelo descaso das leis
Lampião não poderia
Abraçar a insensatez
Porque não é a vingança
Que justifica a matança
Qur o Virgulino fez.
- O Massacre em Mossoró
Sofrido por Lampião
Deixou-lhe fragilizado
Sem ter outra opção
Na Bahia se esconder
E aquí se proteger
Da grande perseguição.
- Se nós formos comparar
As chachinas de hoje em dia
Com a vida de Lampião
E toda "cangaçaria"
Vamos ver que a nossa história
Não tem mais escapatória:
Piorou nossa agonia.
- O caráter e as circunstâncias
Sempre estão entrelaçados.
A luta do bem com o mal
Deixa os homens afetados.
Dessa forma, Lampião
Terá de Deus, o perdão...
Que todos sejam louvados.
- Lampião era um coitado
Desprovido da leitura
Que viveu em um período
Onde imperava a bravura
Ali a bala e a vingança
Não rimava com esperança
Rimava com sepultura!
- Disse o Câmara Cascudo
Com bastante precisão
"A gente pode entender
A saga de Lampião
Sem se solidarizar"
E quero complementar:
Vale a pena o perdão.
- Em torno de Lampião
Muita lenda continua
Disfarçando certamente
A verdade nua e crua.
São proezas inventadas
Que nos fazem dar risadas
Sob o sol e sob a lua.
- Tenho medo dessa gente
Que para o mundo aparece
Sem trabalho filantrópico
E de tudo se abastece
Dessas almas tenho pena
Porque minh'alma serena
Medita e faz muita prece.
- São feridas do passado
Se herói ou se bandido
Certamente Lampião
Já está bem acolhido:
No inferno, purgatório,
Lá no Céu num dormitório
Com Maria sempre unido!
- Ele foi um ser romântico
E ao mesmo tempo brutal
Mistura de Robin Hood
Com o famoso Chacal...
Seguia sua triste sina
Alma boa e assassina
Paradoxo abismal.
- Eu não posso emitir
Um juizo de valor
Porque não vivi na alma
Sua perda, sua dor...
E quem sabe noutra vida
Lampião cure a ferida
E retorne com amor.
- O nosso Mito Maior
Do nordeste brasileiro
Segue sendo pesquisado
Pelo seu maior herdeiro
Uma mulher altaneira
A neta, Vera Ferreira
Do famoso cangaceiro.
- O cangaceirismo foi
Um fenômeno social
Que ocorreu naquela época
Num ambiente abismal
No nordeste brasileiro
Onde a força e o dinheiro
Era a lei imperial.
- Se formos levar em conta
as condições sociais
Nós teríamos um Brasil
Somente de marginais
Assim Lampião de fato
Era um delinquente nato
Sanguinário e audaz.
- Perfume francês, dinheiro
Anéis de ouro e de prata
Sanfona, viola, uisque
Sem vestir roupa barata
Mulher bonita ao seu lado
Muito bem assessorado
Feito um bom aristocrata.
- Impetuoso e sagaz
Não se curvava a ninguém
Veja em "Baile Perfumado"
Que ele sempre mantém
A vaidade, a fidalguia
E o apreço à burguesia:
De quem sempre foi refém.
- O grupo de Lampião
Tinha 50 elementos
Ao passo que a policia
4.000 homens sangrentos.
Mas durante quinze anos
Virgulino com seus planos
Causou desmantelamentos.
- As armas que Virgulino
Conseguia realmente
Eram todas da policia
Repassadas facilmente
Portanto a corrupção
Da policia na Nação
Até hoje está presente.
- Em 28 de julho
Às cinco da madrugada
Em um, nove, trinta e oito
A traição foi chegada
Sergipe - fazenda Angico
Ás margens do São Francisco
Nova vida, outra jornada.
- Lampião é muito mais
Do que saga nordestina
É romance, é poesia
Morte,vida, sonho, sina
Mentira, dúvida, verdade...
Um mito de humanidade
Que até hoje nos fascina.
Barreto aquí se despede
Aguardando Lampião
Reciclado noutra vida
Responsável, bom cristão...
E daí eu lhe direi:
Tomou juízo, meu rei,
Ou continua doidão? !
MARIA BONITA E LAMPIÃO
LAMPIÃO E SEU BANDO
RECOMPENSA DO GOVERNO DA BAHIA
GRUTA DO ANGICO - ONDE LAMPIÃO E SEU GRUPO FORAM MORTOS
Que materia linda!. Saber que ainda existem bons cordelistas na Bahia, ao lado do mestre Rodolfo Cavalcante e mais recente, de Bule-Bule, é recordar os bons tempos do Cordel,dos livrinhos famosos como: A chegada de Lampião no Inferno, A Escrava Isaura, A Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho. Roberto Carlos em Ritmo de Aventura etc. Parabéns. Flavio Rodrigues de Salvador-Bahia.
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